Quatro bêbados e nenhuma cerveja
Talvez o mundo seja só um banho de espermas.
Sim. Você pode até tá certo. Mas quem garante?
Vocês estão mesmo loucos! Querem levar esse assunto adiante? Quantas idiotices mais ainda vão colocar em pauta esta noite?
Realmente não dá pra levar esses caras a sério: lembro que anos atrás sentávamos aqui para falar sobre cinema e literatura: bom-cinema e boa-literatura...
Sim. E daí cara!? Quando eu Digo o que digo falo porque sei: povos antigos já citavam essa teoria...
Qual? A do banho de espermas? Ah! Por favor.
Exatamente. Os antigos incas e algumas tribos na Amazônia...
Não, não. Vamos parar por aqui. Não posso agüentar esse papo.
Ok. Eu não toco mais no assunto.
Passa a cerveja ai, por favor... Não porra! A outra. Essa tá quente.
Mas sim Carlos, deixa esses putos pra lá, continue contando o lance do banho de espermas. Achei interessante. Pode servir pro novo conto que estou tentando escrever.
Sério!? Depois de tanto tempo na poesia...
Humrum. Tô tentando algo...
Pô. Mas se você já vai começar usando as idéias do Carlos sobre esses tais “povos antigos” com seus super pênis e o grande dilúvio espermal, é melhor nem tentar.
Vá se ferrar caralho! Quem falou em “super-pênis” aqui? Enh? A tua mãe é que deve conhecer essa merda!
Ô. Ok guys. Bora parar com essa bosta. Vocês viram o último filme do Marcelo Martins?
Ih. Eu vi. Muito ruim cara. Faz muito tempo que ele não faz nada realmente bom.
Como pode um diretor decair tanto?
É tudo culpa do dinheiro. É um vendido.
Pô. Não fala besteira. O Susto do Amanhecer é um excelente filme, e foi um grande orçamento.
Sei disso cara, mas esse foi o primeiro. O lance dos grandes patrocinadores é como o velho contrato com o diabo: primeiro você ganha o máximo que pode, tudo o que deseja, mas depois, e nunca podemos esquecer isso, o coisa ruim vem cobrar seu quinhão.
É verdade. Aconteceu a mesma coisa com o Akeme: o primeiro filme em Hollywood foi incrível, mas os outros deixam muito a desejar.
Tah louco! Alvorada é foda! Uma obra-prima!
Credo. Aquilo é a maior água com açúcar que já foi feita nos últimos tempos.
Fala sério. Você não deve ter entendido a sacada antropo-filosófica-gestaltica da obra.
Égua Carlos! Tá bom. Acho que por hoje você já bebeu demais, primeiro foi o lance do esperma, agora vem com esse papo pedante pro nosso lado. Por favor, nós nos conhecemos há anos, você não precisa mais fazer média desse jeito.
Porra! Vocês é que não estão conseguindo acompanhar meu raciocínio hoje.
Acho que não estamos é conseguindo acompanhar é a tua sede.
Haha. Concordo.
Tudo bem, tudo bem senhores “não vejo nada que custa caro”. Digam qual o problema do Alvorada?
Bem. Na verdade eu ia dizer que também gosto desse filme.
É. Eu também.
Ta vendo seu escroto! Só você que não consegue enxergar direito.
Não, num acredito que vocês gostam mesmo desse filme.
Cara, não é uma super obra prima ultra filosófica como o Carlos diz, mas temos que admitir que é um show de atmosfera.
Com certeza. Eu também não acho que é uma grande coisa assim como o Carlos diz, mas o que o Akeme faz com o som e aqueles close-ups é coisa de gênio mesmo, a lá Mário Bava.
Ta vendo mané! E isso porque eles falaram só da forma.
Ok, ok. Acho que vou ter que rever essa porcaria... Mas duvido muito que vou chegar a compará-lo com Bava, isso ai já é heresia. Daqui a pouco vocês vão dizer que o Luca Miranda é o novo Bergman.
Ô meu, também não precisa baixar tanto o nível.
Isso ai. Se for pra falar nisso prefiro pedir pro Carlos voltar a comentar sobre o lance do banho de espermas...
NÃO!
Calma gente. Só tava brincando. Mas confesso que ainda acho que seria legal colocar isso no meu conto.
Porra! Mas que merda de conto é esse? Vais falar sobre doentes mentais?
Mas que merda! Vá se fuder porra!
Haha.
Não. É só sobre quatro bêbados e nenhuma cerveja.
Ãh!? Como assim?
É verdade. Acabei de ver na geladeira: estamos zerados.
Putaquepariu! Bora ver se encontramos algo por ai.
Não, não. Pra mim já chega.
É. Pra mim também.
Ah! Tá bom então. Vocês são muito chatos mesmo.
Nada. A cerveja que foi pouca.
Thiago de Melo Barbosa