Colocarei aqui alguns poemas deste livro que escrevi para - não só, mas principalmente - o concurso de poesia da Academia Paraense de Letras (ganhei apenas menção honrosa, antes que perguntem). Caso queiram conhecer o livro todo, basta fazer o download no seguinte link: https://recantodasletras.uol.com.br/e-livros/2143544. Segue os poemas:
Página em Branco
Agora que ela é página em branco
Virgula-se os sentidos
Em ti
Dos
Rotos beijos
Sem nenhuma justificativa
Faz-se a antiga escolha errada
Roda radar
És
Livre
Encontras-te a liberdade dos artistas
(presos na loucura de sondar-sonhar)
És tão jovem
Poesia cósmica que beija minha face
Co-aberta
Por pó de arroz
E fumaça
Havana
Don’t Let Me Down
“Don’t let me down”
É o tempo
_ Após tragar o cigarro_
no qual a fumaça se dissolve
derrete no ar
uni-se a todos na sala
“don’t let me down”
É um momento
_ Entre o respirar e o existir_
quando já finos são os cobertores da face
e o Você e o Eles estão nus
ainda assim há anos luz
Um & Outros
“Don’t let me down”
É o abraçar
Do friumido acolhedor
_No fim de um dia chuvoso_
despertado no mês de dezembro
raro efeito ar musical
“don’t let me down”
É o frêmito
_Quase rasgante_
na pequena fenda
o espaço certo
entre a dor e o prazer
Circulam os Artistas-de-Rua
Circulam, circulam...
Azul
Verde Prata
Branca
Esferas mágicas
presas ao fio da ilusão artística
do artista que cospe fogo
queimando, talvez um pouco,
as ruas frias
e sempre apressadas.
Maluquices Malabares
Laminas afiadas e voadoras
amparadas com afagos labiais
não se preocupam em ferir:
estão na espira incerta
de existir
e serem
cristais.
Fala rua
“Lamina Afiada, seu fio não é suficiente
para cortar a tensão”
Pois nada desfaz
do rodopio louco
dos que andam em vias nuas
Jaz circense, jaz!
E jamais mate o circo que tem nas mãos.
Mirante I
No alto
Pela janela
Via tudo fluindo
Visto a vida dividida pelo vidro,
com sua mancha envidraçada
(pena não ser Manchega).
Turvistava o mundo,
o passilento das horas corridas,
a poeira que subia
que descia
que bailava no ar.
Era um rei contemplando seus (in)domí(naveis)nios.
Do altar do seu apartamento
Tudo lhe pertencia:
O nascer do sol;
e o pôr
O barulho da avenida;
e o silêncio
O falar das pessoas;
e o calar
... tudo imagensonarte...
_Ardias_
Ardente frêmito da cidade.
Ainda que nas tácitas madrugadas,
esculpidas em colóquios de poetas bêbados,
arde o que falta no dia:
lume filho de eletricidade,
concreto vento parado,
silêncio palpável.
_Passenflor_
Já não estranha o quanto ela passou,
sem que um herói chegasse ou saísse do horizonte.
Imersa num copo d’água,
batem bolhas de ar no vidro.
Copo-vaso
Flor, que apenas florimenta.
Sentinela,
Vê por janela manchada _jamais la Mancha_
toda luz refratada até seus olhos;
acompanha cada fóton,
não os deixa se perderem.
Suas leis são imutáveis:
Ela /vidro/ Ele
Ele às vezes vidro.
Ela
Sempre pós-vidro.
Está Dito
Crisálida flor de porcelana
com sabor libertável de infância
e escumas marítimas em terra:
soterra-me em ânsia.
Outro ocaso com sombras dilatadas,
suspensas.
Alegres desenhos vivos,
enigmas.
Sopras a brisa “meu amor” nos meus ouvidos,
simples como tinta branca na parede.
Sua voz é cor,
luz que eu prismo.
( )
Está dito.
Ainda que em invólucro azular
e reflexos refratados
do brilho lunar.
Fica o segundo calado e seletivo
como o tempo para...
Acreditar.
Tragédia do Amor
Tragicamente,
O amor não sobrevive à vida.
Não sobreavise
Viva.
Perdendo o ar, respirando a cegueira.
Desligando os relógios...
Afogando-se
len ta men te
Horizonte azul
Navio negro
Pular no mar?
Afogar-se em terra firme?
O amor exige um suicídio
da vida
em si
nada...
Beira-Mar
A Layanne Marques
Pisa Pisa Pisa Pisa
Apaga Apaga Apaga Apaga
Meus passos são a areia
E o seu sorriso é o mar
É o rio
É o rio-mar
É o mar-rio
Dilui-se toda a diferença
No seu sorriso há muito do meu
Entre nós
(O doce e o salgado
beijam-se no calor,
rolam com as ondas,
unidos,
mergulham na areia)
Nós entre
Mar e rio
Vestimo-nos um com o outro,
Sumimos,
E logo somos: marrio.
olhO-espelho-Olho
Dentro do espelho
Um olho
Dentro do olho
Um espelho
Fora do mundo Vagueio
Dentro do olho
Um mundo
Dentro do espelho
Um passeio
Espelho olho
olho Espelho
Meu olho?
Estelho
Teoria do Fogo
a Prometeu
Fervilha feroz o lúmen
Engendra
Assaz o lume
Fire fere
dissolve os cristalinos
Nos olhos virgens,
Pimenta mexicana
andina
baiana
Lampejante
Liberdade dos raios solares em rodar o universo
(vermelhando o mundo)
Vermelho é a cor do impulso da intensidade
(coragem)
Ver melhor quando verve
Vive
Correndo por longa estrada
Ferve os pés
Derrete a neve
Queima a madrugada
C(h)ama:
Nos abrasamos.
Esfrega-se o graveto
Surge a centelha
[todos nascemos de uma bela queimada]
No fim:
s
s a s s
s a z s a
a z n a s z
n z i z a n
i n z i
c i