Madeleine
Chuva
Retorna a chuva
A chuvinha do fim de tarde
(minha madeleine)
rápida-recordação!
Em ondas por toda a casa
o olor do café
a xícara
gotas e garotas
se divertem lá fora
a bola rola molhada
quente
fumegante
há um macio
aquele leve frio
uma ponte
linkando: Castanhal-Belém e todos os anos
(minha doce madeleine)
É fim de setembro
início de outubro
talvez
a mão dúbia balançando
(chega coa chuva
chuvinha fininha
numa tarde feminina)
a xícara de café
o cafezinho
du fim da tarde
só agradeço
e bebo
Laia Ladaia
você me ama? (you don’t know me
bet), tu me ama mesmo?
dentro de mim ainda (you’ll never
get to know me) há parte de você
de mim em ti e de ti no chão (you don’t
know me at all) e até agora tremo
neste quarto só há nós (fell so
lonely) dos outros que já foram
nós estamos aqui (the world is)
e as janelas (spinning round slowly)
do edifício da frente (there’s nothing
you can show me) nos veem e nos
mostram: me excitam! (from behind
the wall) também. te quero agora
(show me from behind the wall)
retesado: retesão: fodo-a: forço-a
(show me from behind the wall)
as pedras: o teu pênis: o meu... I
(show me from behind the wall)
— as.iss.agora.gozar no escuro. escuro?
— e o que mais, meu amor?oq mais esperar?
—ah.nada.cam’on. infecta-me com as...
—e o que mais esperas, meu amor?meu amor?
I. I. cale-se! calo I me. calo I I call I aahh...
Betty, eu (nasci lá na Bahia
de mucama) nada. não pre
(com feitor)cisa dizer nada
eu apenas queria (o meu pai)
é, eu também (dormia em cama)
queria (minha mãe) verdade?
(no pisador) sim, talvez...
(laia ladaia sabadana Ave Maria,
laia ladaia sabadana Ave Maria,
la laia ladai sabadana Ave Maria)
obrigado. acho que te...mo. sim
(eu agradeço) acho que t’amo
(ao povo brasileiro) foi bom
sim. de novo (norte, centro, sul
inteiro) mas então... o quê?
(e onde reinou o baião) tãm!
Breve Desfile
Com toda élégance que merece a mulher
encantadora de longos vestidos [14 de Março]
do vento e do friso
namorados
— beijam-se colegiais
é sempre uma fuga
das urinadas calçadas de São Braz—
[Generalíssimo Deodoro]
Esmaga a saliva das ruas decidida
e tudo é flor do seu perfume Boticário
suicida de suas curvas moderníssimas:
uma cintura Brasília de Andrade.
— GOSTOSA!
— TESÃO!
— ETAH BICHA BOA!
(som ruídos na construção)
Por que não?
Ó flor de perfume raro e esquisito encanto
Musa sem-par em graça ou donaire
Que de tão airosa deixa a primavera em prantos
[Quintino Bocaiúva]
Agora é o trabalho
na butique de vestidos very very chics
dos quais o seu é só irmão de criação
Sombras dadas
A Layanne Marques
Jamais te mandarei restos de flores.
Enquanto o sol cair por detrás das edificações,
Dar-te-ei a sombra daquela rua calada,
Estreita e sincera,
Quase nascida em branco e preto.
Resvala a luz...
Deitam-se prédios e arvores,
Esticam-se pelo chão,
Louvam quem passa.
Sedo-lhe minhas impressões.
É seu aquilo que não possuo,
Mas que sempre será meu.
Ofereço-lhe apenas o que tenho de melhor:
as sombras da minha visão calada.
Albatroz
Ó Albatroz. Eis o Albatroz
De tantos mergulhos e penas deixadas
Na alba glória dos heróis
Eis que outrossim. aqui pausa.
No parapeito das musas tortas
Por pesadas
Flores
Liras
Cantos
Já much e muy e muito
entoados
(ao canto fadados)
Albatroz
Rasgas agora
Tua garra
Esta crosta
Perfura
Cai do céu, do Olimpo
Direto do sonho dos deuses
Para a tumba aberta dos mortais